Ouvimos o novo álbum da AURORA e te contamos tudo!

Ouvimos o novo álbum da AURORA e te contamos tudo!

Por Rodrigo Waldorf

A cantora e compositora norueguesa Aurora Aksnes, ganhou grande reconhecimento por seu single “Runaway” viralizar no TikTok, e por sua participação em “Frozen 2” da Disney.  No entanto, AURORA já entregou grandes trabalhos em sua carreira, como os discos “All My Demons Greeting Me As A Friend”, “Infections Of A Different Kind – Step 1″,  e “A Different Kind of Human – Step 2”

Através da sua voz penetrante, AURORA nos faz percorrer o conceito de cada um de seus álbuns: 

Em seu primeiro disco, entendemos quem são os nossos demônios – as partes mais obscuras que possuímos e temos medo de revelar – e como as experiências ruins que tivemos no passado podem se tornar boas memórias. É o ato de perdoar o nosso passado, e seguir em frente. Já em seu segundo disco (dividido entre Step 1 e 2), a cantora nos encoraja a olharmos para dentro de nós, e acharmos a nossa própria força para nos tornarmos os nossos próprios guerreiros. Essa etapa culmina no Step 2 onde, uma vez que aprendemos a lutar por quem somos, precisamos usar a nossa força para lutar por aqueles que ainda não podem. É sobre lutar pelas minorias, pelo Planeta em que vivemos. O Step 1 nos pedia um olhar para o Interno, e o Step 2 nos pede um olhar para o Externo. 

Três anos após o lançamento do último álbum, AURORA está de volta com o álbum que carrega o conceito mitológico grego, “The Gods We Can Touch”.

AURORA abre o primeiro ato do álbum conduzindo o ouvinte pela história que ela está prestes a contar através de vocalizes harmoniosos, delicados e sombrios. Quase como a abertura de um espetáculo teatral, “The Forbidden Fruits Of Eden” dá a deixa perfeita para a próxima cena iniciar, dando o pontapé inicial na narrativa dos Deuses e Deusas da mitologia Grega que iremos encontrar nesta jornada. O violão orgânico de “Everything Matters” cria a atmosfera cativante quando se encontra com o piano clássico e os sussurros afiados da cantora Norueguesa, quase como se ela quisesse contar um segredo. Com referência a Atlas, Deus da resistência, à faixa confronta as pequenas belezas da vida que perdemos em nossas vidas tão aceleradas. 

“Giving In To The Love” é a primeira faixa mais bombástica com sintetizadores e bateria eletrônica que nos é apresentada, onde a cantora faz uma menção honrosa à Prometeu – Deus do fogo e mestre artesão – como ele supostamente criou os humanos em argila, e roubou o fogo dos Deuses para nos dar a Vida.  A faixa fala com o conceito de beleza, como ninguém é perfeito e como frequentemente sentimos que precisamos ser. Por fim, a canção questiona a atual obsessão dos humanos por beleza, e a consequência dos padrões de beleza impostos pela sociedade com a frase “se eu nunca tive o mundo, então por que mudar por ele?”,  chegando na resolução de nos fazer lembrar do fogo que há dentro de nós – em nosso eu-interior – e a parte mais bonita do ser humano que é a capacidade de amar, e o que realmente precisamos, é o amor. 

Inspirada na Deusa da cura – Panacéia, “Cure For Me” é a faixa que desfruta do uso de sintetizadores, se tornando a mais pop e energética do álbum, onde AURORA fala sobre se libertar das expectativas dos outros, não ter vergonha de quem você é, e ser livre para isso. A canção foi escrita criticando a prática de “terapia de conversão” para pessoas da comunidade LGBTQIA+ que ainda é legalizada em alguns países.

Reprodução/Divulgação

“You Keep Me Crawling” é uma mistura interessante em sua sonoridade e letra. A faixa que parece que ao mesmo tempo que te convida para dançar com seu tom de sensualidade, é a mesma que vai te apunhalar pelas costas. A constante busca por aprovação  – e aqui entra o questionamento do poder que damos ao outro sobre nós – soa quase como um suplico, como uma tentativa desesperada de se libertar. Por fim, ela realiza que a entrega ao amor não deve ser dolorosa, ela deve ser libertadora, e nos faz entender que o nosso amor (próprio) é a chave para isso.  “Giving into love should never hurt for me/Giving into love should set me free”.  Nesse ponto temos um primeiro ‘click’, fazendo citação à faixa três (Giving In To The Love), e dando início à “Exist For Love” onde temos a representação do amor como algo espiritual – é a sua entrega ao amor verdadeiro, ao amor que nutre, que pertence. É a sua realização daquilo que foi mencionado na faixa três, é a realização de existir para o amor. Apesar de ter sido lançada em maio de 2020, a faixa soa fresca na junção do álbum, e certamente se caracteriza por transportar o ouvinte à uma etapa etérea da jornada. É o alívio após a dor de “You Keep Me Crawling”.

O que soa como o final do primeiro ato deste grandioso espetáculo teatral, “Heathens” provoca AURORA a se retirar da sua zona de conforto, tanto liricamente quanto em termos de sonoridade. A faixa sombria, forte e feroz explora o nosso livre arbítrio, a liberdade de vivermos de acordo com o que escolhemos, a liberdade de explorar, de provar todas as nuances da vida. “Heathens” honra as mulheres que desafiaram, que lutaram e que conquistaram a liberdade que elas hoje, possuem. 

Com elementos sonoros ritualísticos – honrando os povos pagãos que muito desafiaram a sociedade, as formas de poder religiosos atrelados à ela, e se mantiveram fortes perante às suas próprias vontades, “Heathens” é um dos pontos mais altos do álbum e encerra com maestria essa primeira parte da jornada. 

A segunda metade do álbum começa com “The Innocent” onde diverge sonoramente de tudo o que nos foi apresentado antes. Com uma melodia repetitiva, e o desejo de explorar, a faixa introduz muitos elementos ao mesmo tempo – e talvez este seja o seu erro – resultando em um final completamente atordoante. 

A quebra brusca se dá com o início de “Exhale Inhale” que vem para acalmar o coração e a mente com murmúrios harmônicos da cantora. Fica claro o amadurecimento de AURORA que explora muito do folk na sua sonoridade, diferentes gêneros, e que envolve o ouvinte mais uma vez em seu storytelling. A faixa vai construindo seu espaço com delicadeza e maestria, te engolindo em meio a divisão de voz que ressoa como a união perfeita de gelo e fogo. Uma das canções mais imersivas e poderosas do álbum, “Exhale Inhale” é certamente um destaque não só de “The Gods We Can Touch”, mas como da carreira da AURORA

“A Temporary High” é uma explosão com sua sonoridade e batidas metalizadas – diga-se de passagem, nostálgica do New Age de “a-ha” dos anos 80 – que dá cor a história que está sendo contada. Em contraponto, “A Dangerous Thing” constrói um cenário obscuro e profundo através da melodia e da voz de AURORA. Liricamente, a cantora utiliza a referência de Peitho – Deusa da Sedução e Persuasão – para explorar a feiúra da vida e como ela muitas vezes é disfarçada pela beleza.  Ela usa a metáfora para exemplificar o comportamento abusivo em relacionamentos escondidos atrás da sedução – que muitas vezes o que pensávamos ser bom para nós, na verdade é destrutivo -, e que tendemos a voltar a ele por que pelo menos, é familiar. “Something about you is soft like an angel/ But something inside you is violence and danger/I knew from the moment we met. you are a dangerous thing.”

Com os floreios do Bandoneón de Per Arne Glorvigen, “Artemis” – Deusa da Caça, soa como uma pintura medieval, que o transcende com um mix de sensualidade e horror, e vai crescendo até encerrar com o que mais se parece um grito de guerra “I always wondered why they all came back for more”. Esse grito de guerra e o cenário medieval perduram em “Blood In the Wine” onde AURORA definitivamente atinge o seu auge em “The Gods We Can Touch”

Reprodução/Divulgação

Todo o espetáculo vai chegando ao fim com “This Could Be A Dream” onde AURORA nos recebe com vocais suaves e cordas orquestrais. Apesar de ser agradável, a faixa não chega a ser morna – e até causando um estranhamento quando colocada ao lado das fortes personalidades que as outras faixas possuem.

Encerrando a jornada mitológica que AURORA nos proporciona do decorrer do álbum, “A Little Place Called The Moon” é apresentada quase como um presente. A faixa que carrega grandes influências de Enya, explora um ritmo mais lento e experimental, preenchida com vocalizes angelicais que nos elevam à um toque com o divino, fechando essa experiência que percorre o mundano e o etéreo, chamada “The Gods We Can Touch”

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