CRÍTICA: ‘Morte no Nilo’ se supera no mistério e traz reviravoltas inesperadas

O roteiro de “quem matou?” é uma das táticas mais infalíveis da ficção e continua funcionando, principalmente nos cinemas, até mesmo pelo fato da curiosidade prender os telespectadores na poltrona e se atentar nos pequenos detalhes. E essa foi a base principal por trás da história de ‘Morte no Nilo’ (2022).

Essa foma foi repetida incontáveis vezes e é sempre interessante quando o diretor que assume a obra faz a escolha de incrementar, até mesmo deixando o mistério de lado. Ou melhor, colocar um romance intenso e ardente no meio dele. Você consegue imaginar?

Existe uma forma irresistivelmente charmosa nessa nova adaptação, comandada mais uma vez por Kenneth Branagh. Ao contrário do filme anterior do diretor na obra de Agatha Christie, ‘Assassinato no Expresso do Oriente’, aqui a trama é mais intensa, cautelosa, curiosa e por si só antiquada e divertida. É uma cápsula do tempo, uma viagem para o Antigo Egito.

Ambientado na década de 1930, Morte No Nilo começa quando Jacqueline (Emma Mackey, estrela de Sex Education), apresenta o noivo, Simon (Armie Hammer), à melhor amiga, a herdeira milionária Linett (Gal Gadot). Assim que Linett coloca os olhos em Simon, uma faísca se acende: a estrela e o rapaz se apaixonam, se casam, e Jacqueline, arrasada, começa a persegui-los para atrapalhar essa estranha relação.

© 2020 Twentieth Century Fox Film Corporation. All Rights Reserved.

Desconfortável com a situação e temendo pela própria segurança, Linett contrata o detetive Hercule Poirot (Kenneth Branagh) para acompanhar o casal e seus conhecidos em um cruzeiro pelo Rio Nilo. E claro que, conhecendo Agatha Christie, uma morte em circunstâncias misteriosas torna todos os passageiros suspeitos e dá a Poirot a tarefa de descobrir quem é o assassino.

Por meio de uma lembrança assustadora no início da produção, o filme faz uma boa escolha ao conectar o detetive ao assassinato no Nilo, relacionando as loucuras cometidas em nome do amor. Soando como um Romeu e Julieta – porém, ainda mais dramático. E ainda mais luxuoso.

Morte no Nilo leva um bom tempo para, de fato, acontecer. Isso torna a produção um pouco massante e tediosa. A primeira parte do filme é contextualizada em uma traição e intenções que ficam claras nos primeiros minutos. E, consequentemente, acaba levando muito tempo para alcançar a história principal. Antes de tentar descobrir quem é o assassino, o público vai precisar esperar uma hora para saber, primeiro, o que de fato aconteceu na primeira noite no barco.

Photo by Rob Youngson. © 2020 Twentieth Century Fox Film Corporation. All Rights Reserved.

Depois que uma dessas pessoas é morta durante a noite, o suspense entra em ação, trazendo uma sensação de apreensão e susto. E enquanto o mistério começa a se desenvolver, características clássicas aparecem entre os convidados da cerimônia e o público é convidado a fazer suas apostas. Mas lembre-se, atente-se aos pequenos detalhes.

A fórmula do assassino misterioso é praticamente infalível. Morte no Nilo faz bom uso dos clichês e do mistério contado no livro para a simplicidade a que se propõe na tela, trazendo uma leveza e sendo um ótimo filme para ver em família, ainda mais em meio a uma pandemia.

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O filme é marcado por reviravoltas e coloca o holofote em um novo suspeito, o que torna ainda mais irresistível, e quando mais corpos aparecem, mais divertido é acompanhar o raciocínio e pistas de Poirot. Sendo até mesmo um pouco assustador.

Um ponto alto para Morte no Nilo são os cenários. Além de ser uma volta luxuosa e deslumbrante para o Egito, as cenas são vibrantes, coloridas e terrosos, provocando um clima de tensão menos caricato, mas que faz você sentir o que está por vir. Kenneth Branagh, que também assumiu a direção, soube muito bem trabalhar nesse ideal. Isso foi extraordinário!

Apesar da produção contar com muitos atores carismáticos e importantes para a cinema, a mistura acabou não funcionando muito bem. Primeiro, é muito difícil não pensar em todas as controvérsias envolvendo Armie Hammer, causando um desconforto. Sendo um dos principais na história, o ator está em cena quase o tempo inteiro, não tendo como cortá-lo nas edições. Isso atrapalhou, e muito, a história.

Apesar de contar com Letitia Wright (Pantera Negra), Sophie Okonedo (Ratched), Russell Brand (O Pior Trabalho do Mundo) e Tom Bateman (Assassinato no Expresso do Oriente), eles não entraram em sintonia. Nem mesmo Gal Gadot se salvou nessa história. Faltou uma autenticidade. Mesmo sendo um mistério, e tenha mostrado 10% da história dos convidados no barco, faltou tempo para ser aprofundado, deixando em aberto muitas explicações.

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