ENTREVISTA: Elenco de “Socorro, Virei Uma Garota” fala sobre troca de sexo, diversidade e amor próprio

Nesta quinta-feira, 22,  estreia em todo o Brasil o filme “Socorro, Virei Uma Garota”. O longa conta a história de Júlio (Victor Lamoglia), um nerd que é zoado pelos colegas de sala junto com seu melhor amigo, Cabeça (Leo Bahia) que vão em uma viagem de escola é atingido por uma estrela cadente, e ao pedir para virar “a pessoa mais descolada do colégio” acaba acordando em um “outro universo” como Julia (Thati Lopes), uma menina popular e melhor amiga de Melina (Manu Gavassi), por quem Júlio é/era apaixonado.

Batemos um papo com os atores sobre o filme, e vocês podem conferir abaixo:

No filme, o Júlio vira Julia. Se vocês pudessem trocar de sexo por um dia, o que vocês fariam?

Lua: Com certeza eu transaria, né, primeiro. Pra entender essa experiência do outro lado. E eu acho que eu faria tudo o que eu sempre faço. Porque a gente hoje está quebrando essa ideia de que tem coisas que homens fazem e mulheres não podem fazer. Pelo contrário, homens podem se vestir do jeito que eles quiserem, mesmo que seja uma roupa que é conhecida como uma roupa feminina. Então, eu me vestiria do jeito que eu me visto e eu faria o que eu quiser fazer.

 

Victor: Eu ia querer transar. Ia ver qual é.

 

Thati: Eu ia andar na rua e falar “eu sei o que vocês passam! Eu entendo. Eu estou aqui pra dizer que vai ficar tudo bem. Agora eu vou sair desse vagão.”

 

Manu: Cara eu ia fazer xixi de uma maneira diferenciada. Deve ser uma experiência..

 

Leo: Eu acho que eu ia ter um dia de beleza, no spa assim, sabe? Que é uma coisa que eu já podia fazer, né…Mas acho que essa coisa de virar uma outra pessoa traz uma libertação. Eu só ia querer a parte boa.

 

E se vocês pudessem ser qualquer outra pessoa, por um dia, quem seria e por que?

 

Lua: Acho que Beyoncé, né? Deve ser muito bom ser Beyoncé. Poder dançar do jeito que você quiser, poder ter aquele corpo maravilhoso, aquela bunda, nossa…

 

Victor: Se eu pudesse ser qualquer pessoa do mundo? Viva ou morta? Por um dia?  Eu ia ser, eu queria ser o Charles Chaplin.

 

Manu: Eu ia querer ser a Audrey Hepburn.

 

Leo: Precisa ser uma pessoa? Eu ia querer ser um cachorro de madame, gente. Um lulu da Pomerânia. Cara, não tem vida melhor.

 

O que fez vocês toparem a ideia de participar do filme?

 

Lua: Eu gostei do texto, eu gostei da proposta do filme. Eu fui convidada para pintar o cabelo de azul, e eu pensei ‘ai, será que eu vou encarar isso?’. Eu já estava querendo uma mudança, e eu falei ‘ah, se é pra mudar, então vamos pintar o cabelo de azul’. Eu curti a ideia como um todo. Amo cinema, então qualquer oportunidade de fazer cinema vou abraçar com muito cuidado. Vou considerar o convite com muito zêlo, porque eu gosto muito. E foi uma experiência maravilhosa. Fico muito feliz de ter participado desse filme.

 

Thati: Primeiro quando me convidaram eu li o roteiro, e tudo o que você sentiu foi exatamente o que eu senti lendo aquilo ali, e a preocupação era ‘tomara que fique muito legal’. E foi melhorando, porque, claro, chega o roteiro, aí a gente conversa, vai acertando algumas coisas. Então foi esse sentimento de ‘ai, que legal!’. Pode ser um filme muito bacana e muito emocionante pra muita gente.

 

Leo: A minha coisa com esse filme é porque eu acho que é um filme que eu ia querer assistir quando eu tava na escola, sabe? Porque ele fala sobre aceitação, fala sobre ser legal,  ser quem você é, se você é excluído diferente, gordo, magro, se você é homem ou mulher. Então é um filme que eu queria ter assistido, porque eu acho que me faria sentir melhor no ambiente escolar, que é um ambiente que pode ser muito opressivo às vezes. Acredito que isso é o principal que me pega por esse filme. É uma história legal de mostrar para as pessoas. As pessoas tem que assistir.

 

Victor: O meu (motivo) bate no mesmo lugar do Leo. É um filme que se eu estou no colégio, isso ia mudar muito minha cabeça, minha maneira de agir com os meus colegas ou de talvez dos meus colegas de agirem comigo. Acho que bate nesse lugar de ‘caramba, a gente pode ajudar alguém ai’.

 

Manu: No meu caso é o tipo de filme que eu assistia quando eu era adolescente, então é legal você poder fazer no nosso país uma cultura pop que a gente consumiu tão intensamente na adolescência. Me lembrou muito essa pegada desse tipo de filme que a gente consome bastante, que a gente vê pouco aqui no nosso país.

 

Qual foi a cena mais engraçada de gravar?

 

Manu: A cena entre a Thati e o Leo, quando a Júlia convence o Cabeça de que ela é na verdade o Júlio. O Cabeça fala do piercing. Vocês riram de verdade, né?

 

Thati: É verdade. Tanto que nem tinha roteiro ali. A gente foi no improviso.

 

Victor: A minha foi..a que eu mais ri fazendo, nem é uma cena engraçada, mas é que estou eu e a Manu sentados num toco (de árvore), que a gente está falando de Los Hermanos, e o Leo está no fundo segurando um espirro.

 

Leo: Cara, eu dava graças a Deus quando eles erravam, porque eu fazia assim (dá uma tossida). Nossa foi pesado.

 

O filme tem a cena do personagem do Julio ser atingido por uma estrela cadente. Se vocês pudessem fazer um pedido pra uma, qual seria e por que?

 

Lua: Eu acho que eu faria o pedido de tipo, tocar todos os instrumentos do mundo. Eu acordar sabendo tudo. Qualquer instrumento que eu quiser tocar, eu posso tocar.

 

Thati: (zoando) Olha, a paz mundial.

 

Victor: Mais três pedidos. Pode?

 

Manu: Eu ia querer poder ter um poder específico. Eu ia querer ter o poder da invisibilidade. Deve ser irado.

 

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Leo: Eu tenho coisa com cachorro né. Eu acho que eu ia querer poder transformar as pessoas que eu não gosto em cachorros fofinhos.

 

No filme, a gente tem a descoberta que a Júlia é gay e que o pai dela teve um grande amor na época do colégio, o Jorge, além da Renata ser gay também. O filme aborda o tema da diversidade. Pra vocês, no dia de hoje, qual a importância do filme abordar esse tema para os jovens?

 

Lua: Eu acho essencial, essencial. E vou te dizer mas: eu não acredito que foi abordado [o tema] de uma forma 100% natural como esse assunto deveria ser abordado. Ainda tem uns dedos, ainda tem um humor em cima da homossexualidade, ainda tem um ‘nossa, caraca, você é gay!’. Mas eu acho que é um primeiro passo para a gente abrir esse diálogo, sim. Porque tem que ser uma coisa natural. Não pode ser ‘ai, pego homem’, ‘você pega homem, haha’, ‘ai, eu tive um amor’. Ele (o personagem do pai do Júlio, interpretado por Nelson Freitas) amar o Jorge não deveria ser uma piada, entendeu? O fato de que ele ama o Jorge ainda é uma piada, mas pelo menos a gente tá falando sobre isso. Então é um primeiro passo. O amor tinha que ser livre, e a gente tem que aspirar e trabalhar pra chegar no dia onde isso não é mais uma piada.

 

Manu: Eu acho que, assim, a gente é de uma geração a mais que os adolescentes, né, dez anos a mais que os adolescentes, mais ou menos. E eu acho que a geração mais novinha agora já evoluiu muito se comparado a nossa. O filme é até mais comparado a nossa realidade no colégio, que tinham até mais barreiras para serem quebradas, do que o que eu vejo hoje do público mais novo, da galera de 14 15 anos, que já tem uma mente muito mais aberta, mais evoluída do que tinha há uns 10 anos. Acredito que nunca é demais falar sobre isso. A gente está  vivendo um momento complicado no país, em que está voltando uma onda de preconceito, de conservadorismo, então mais do que nunca é bater nessa tecla. E o filme passa uma mensagem bem importante.

 

Thati: É uma transição né. Eu também vou aprendendo. Tem que falar, tem que ter, e quando é de uma forma divertida e natural, nada melhor.

 

Leo: É exatamente uma coisa que eu falei no inicio, da importância de fazer esse filme pra mim. Ele fala sobre aceitação, da gente ser feliz como a gente é.

 

Victor: Você poder usar o filme como o start de uma conversa é muito legal. Porque por exemplo, às vezes você quer falar disso com seu pai, mas não sabe como, porém tem um filme que fala disso, aí você assiste com ele, comenta alguma coisa, já de um início na conversa. Isso é bem legal em filmes que trazem um assunto para dentro de casa, pra mesa, e você poder conversar em detalhes ali.

 

Por último, o filme tem uma mensagem que é a do amor. De você mostrar para os outros que você ama e eles, e também de amar a si mesmo. E o Júlio, como Julia, vai aprendendo isso aos poucos. Qual a mensagem que vocês passariam pra quem vai ver o filme e pro público de vocês?

 

Thati: De amor, se ame, se aceite

 

Manu: E eu acho que não fica uma coisa tão óbvia, né? Porque ao assistir, você acha que é muito mais um desafio para com as outras pessoas em volta, né? Do Júlio, da família, da menina que ele gosta, do melhor amigo…e no final é uma mensagem muito importante, que a mãe traz. E quando ele consegue se olhar no espelho no final e se aceitar, é muito importante. É uma mensagem meio não óbvia, que acho que vai meio que na contramão do que se espera de um filme adolescente.

 

Leo: E tem uma coisa que eu acho muito legal, que é, ao mesmo tempo que ele como Júlio conseguiu tudo o que ele queria, continuou faltando o que era o mais importante, que era exatamente isso o que a mãe fala que é o amor próprio e isso é independe de você ter tudo. De você ter dinheiro, ter as roupas, ter os amigos, de você ter popularidade. Não é o que a gente tem, não são os nossos entornos. Porque isso passa, eu acho que tudo passa, as escola passa, amigos, gente tóxica na nossa vida passa. E no final a gente tem a gente.

 

Victor: E aproveitar quem tá ali do seu lado e que você gosta.

 

Manu: E faça o pedido certo. Muito mais do que pedir alguma coisa, querer ser diferente do que você é, o pedido certo é você conseguir se aceitar e ser confiante em quem você é e ponto. Você não precisa mudar nada. Você tendo confiança, confiança é a chave da felicidade, até pra nenhum comentário negativo te afetar.

 

Lembrando que o filme estreia em todo o Brasil nesta quinta-feira, 22. Não deixem de perder essa comédia que também tem mensagens muito importantes.

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